Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009
Ainda agora o dia se levanta
e já as cigarras cantam
furiosas
De AUFDERMAUR a 15 de Janeiro de 2010 às 06:10
Eu tenho o estranho hábito de me deitar quando o dia se levanta mas nunca tive o prazer de ouvir as cigarras a cantar, somente galos. O que eu ouço muitas vezes (e parece que hoje vai ser outra delas) é as pessoas que às vezes estão na mesma casa que eu a levantarem-se e eu, para evitar ouvir mais uma vez o quanto eu sou estranha e que isto não é vida, deito-me rapidamente, ligo o meu companheiro de todas as horas e fico muito quietinha a fazer de conta que estou a dormir...
Outras vezes não ouço nada de tão absorvida que estou a observar a pessoa ao meu lado a dormir, a admirar cada movimento, cada som, a fazer-lhe carinhos, a falar com ela e a obter respostas sonâmbulas ou então a chorar ao pensar em todo o sofrimento e dor que duas pessoas que se amam são capazes de causar uma à outra. Muitas dessas vezes dou por mim a odiar essa pessoa por me partir o coração e depois ser capaz de adormecer calmamente enquanto eu fico ali sem conseguir parar de chorar. E odeio-me a mim por não ser capaz de fazer o mesmo, continuar a minha noite como se nada tivesse acontecido...
E ainda assim prefiro mil vezes essas noites àquelas em que após decidirmos separar-nos e estando cada um em sua casa, surgem mensagens e músicas de suicídio no ar, acompanhadas de frases como "Nunca te esqueças que foste a única pessoa que eu amei" ou "Eu estou-me a afogar e tu não me salvas", seguidas de um desaparecimento ou de telefonemas de madrugada em que ninguém fala do outro lado da linha, ouvindo-se apenas barulhos que nos assustam e um desligar repentino... E quando damos por nós a pensar que tudo não passa de simples ameaças, vivemos a pior noite da nossa vida, sozinhos numa casa, com o DVD "Soulmates Never Die" a tocar sem parar (isn't it ironic), a desejar que tudo não passe de um filme de terror mil vezes pior que aqueles cujo guião inclui frases como ""Se fosses um homem já estavas morto" ou "Eu encontro-te onde quer que estejas e parto-te a cara toda"... Era tão bom se o canto furioso das cigarras denunciasse o aproximar de noites como estas, noites em que por momentos nós vemos a morte à frente dos nossos olhos... Mas isso só acontece nos filmes e em blogs cheios de poesia...
"Come on Balthazar I refuse to let you die
Come on fallen star I refuse to let you die
Cos that's wrong and I've been waiting far too long
It's wrong,and I've been waiting far too long
For you to be-hee ..be-hee ..be-hee ..be mine
For you to be mine ..be mine ..for you to be mine"
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